Histórias Para Refletir

Neste local, relatarei historias que leio nos livros ou ouço pelos lugares onde passo. 

Aconselho ler uma a cada dia e refletir por um tempo sobre ela e o que ela tem a nos ensinar. Pois cada historia tem algo a nos dizer, que vai além do significado de suas palavras...

Boa leitura!


História 01

Pais e Filhos
Tão bom poder ver a beleza que existe ao nosso redor sem a cobrança de ter que possuir tudo.

Num determinado país, em alguma parte do oriente, viviam um homem muito rico e um homem muito pobre. Eles tinham, cada um, um filho.
O homem muito rico subiu com o filho até o alto de uma colina, lhe mostrou a paisagem ao redor deles com um gesto e lhe disse:
            - Veja. Um dia, tudo isso será seu.
O homem muito pobre subiu com o filho ao topo da mesma colina, lhe mostrou a paisagem em volta e lhe disse apenas:            
             - Veja.



História 02

O Sal nos Olhos
Há coisas que foram feitas para serem encontradas, e não procuradas. 
Quando nos fixamos na procura de algo, ficamos vidrados: "é isso que eu procuro? não. Então sai." "é isso que eu procuro? não. Então sai." "é isso que eu procuro? não. Então sai."  Jogamos tudo fora.
Quando deixamos de procurar, nos abrimos para ver o que realmente está ao nosso redor. E aí sim, podemos encontrar muito mais do que buscávamos. 
Pois, muitas vezes, as coisas não se apresentam exatamente da maneira que nós achávamos que elas iriam se apresentar.

Durante quarenta anos, um asceta, na esperança de atingir o bem supremo, se esforçou para não dormir à noite. Para isso, colocou regularmente sal sobre os olhos, que se transformaram em duas poças de sangue.
Uma noite, entretanto, no limite das suas forças, ele adormeceu. Durante o sono, teve uma visão do Paraiso, de Deus, dos anjos.
Ele acordou entristecido, dizendo:
            - Busquei tudo isso quando estava acordado. E não o enxerguei, senão quando adormeci.



História 03

Os Quebradores de Pedras
Você pode se lamentar pela sua vida.
Você pode achar que sua vida é digna de lamentação, mas ser otimista.
Ou você pode realmente ver o quanto a sua existência faz a diferença no mundo.
Você já sorriu de verdade para alguém? Mesmo sem saber, esse alguém estava precisando. 
Então você já fez a diferença no mundo. 
É bem mais simples do que a nossa mente nos cobra.

Charles Péguy contou a historia de um homem que foi a pé até Chartres, na Idade Media, e que no caminho encontrou um homem que exercia o mais duro dos ofícios: quebrador de pedras.
            - Vivo como um cão – o homem lhe disse. – Exposto à chuva, ao vento, ao granizo, ao sol, faço um trabalho penoso, e por alguns trocados. Minha vida é uma nulidade. Ela não merece o nome de vida.
Um pouco mais longe, o mesmo homem encontrou outro quebrador de pedras, que tinha uma atitude totalmente diferente.
            - É um trabalho duro – ele lhe disse -, é verdade, mas, pelo menos, é um trabalho. Ele me permite alimentar minha mulher e meus filhos. E porque trabalho ao ar livre vejo passar o mundo, não me queixo. Existem situações piores que a minha.
Enfim, um pouco mais longe, o homem encontrou um terceiro quebrador de pedras, que lhe disse, olhando-o nos olhos:
            - Eu, eu construí uma catedral.



História 04

A Boca da Criança
Que tal relaxar um pouco com pequenos acontecimentos cotidianos que não saem conforme o esperado? 
Nunca teremos controle sobre tudo. Independente do que aconteça, o Universo todo continuará com tudo no seu devido lugar. 

A natureza é sabia, então confie. Nada foge ao controle do criador.

Esta história clássica adquiriu, na India, formas diversas. Aqui está uma delas:
Quando Krishna - que na mitologia indiana é a oitava encarnação do deus Vishnu, a força do bem que preserva os mundos - ainda era uma criança, era conhecido por suas travessuras e por sua gula. Pelo menos é o que contam relatos tardios da sua vida.
Ele queria leite clarificado, geléias e doces. Um dia, foi até mesmo acusado pelos camaradas de ter engolido um pouco de terra, coisa que não se faz. Ele foi severamente repreendido por sua mãe terrestre, Yashoda, que lhe explicou que jamais, em nenhum caso, deveria comer terra.
            - Não comi terra! - disse-lhe o muito jovem Krishna.
            - Está bem, abra a boca e me mostre - disse a mãe.
O menino obedeceu e abriu a boca. E lá, ao se debruçar, Yashoda viu repentinamente árvores, rios, montanhas; viu o Universo se estender ao longe, rico de estrelas e luzes; viu a existência simultânea de todos os seres;  viu até mesmo o passado e o futuro, os mortos que pareciam vivos e aqueles que ainda não tinham nascido, mas que já apresentavam uma forma visível. Viu também todas as emoções que os seres vivos podem sentir, o medo, a cólera, o assombro; viu o riso e as lágrimas e as três condições da matéria.
Nada lhe escapou. Ela viu todas as coisas na boca do filho. Cada parcela do Universo estava no seu lugar. 
            - Está bem - ela disse, inclinando-se. - Você pode fechar a boca. 



História 05

Qual Filho Lamentar?
Adianta mesmo nos lamentar pelo que já foi?
Tenha certeza de que o outro fez o melhor que ele pode. Muitas vezes o melhor que o outro pode não é o mesmo que a gente poderia ter feito, mas aí não cabe a nós julgarmos.
Se tudo é uma grande ilusão, um sonho não vale menos do que um acontecimento cotidiano. 
Assim como o que você poderia ter feito, mas não fez, não é melhor do que aquilo que o outro não conseguiu fazer.

Ramakrishna multiplicou as imagens, ou as histórias, para tenta falar sobre maya, esta ilusão universal na qual, segundo as crenças indianas, todos nós vivemos.
Ele conta que um homem pobre e sem trabalho deixou a mulher e o filho doente para tentar ganhar um pouco de dinheiro. Ele não voltou. Quando regressou no dia seguinte, o filho estava morto e a mulher se lamentava, acusando-o de ter abandonado o filho no momento em que ele mais precisava do pai.
O homem olhou para a mulher e para o cadáver do filho, sorrindo.
          - Porque sorri? - a mulher lhe perguntou, muito espantada.
          - Vou lhe dizer. Na noite passada, sonhei que era rei e que tinha sete filhos com plena saúde. Eu viva feliz com eles. Quando acordei, eles tinham desaparecido. Diga-me o que devo lamentar mais: o filho doente que acabamos de perder ou meus sete filhos desaparecidos?



História 06

O Quarto Condenado
Será que precisamos ter todas as respostas sempre?
Às vezes nos preocupamos à toa com coisas que não nos dizem respeito. 
Que tal deixar de procurar as respostas nos outros e encontrá-las em nós mesmos?

Chateaubriand, que amava as historias de fantasmas e que, entretanto, era muito católico, contou que leu essa história no "Tesouro das Almas do Purgatório".
Um religioso, estando deitado sozinho num velho castelo, ouviu baterem à sua porta no meio da noite. Entra um condenado, uma grande carcaça de morte, o nariz afilado, os olhos resplandecentes de um fogo azulado, a lingua negra. 
          - Quem é você e o que procura? - disse atrevidamente o monge, fortificado por Deus.
         - Aquele que vem depois de mim lhe dirá - respondeu o primeiro condenado.
Entra o segundo condenado.
          - Quem é você e o que procura? - disse o monge.
          - Aquele que vem depois de mim lhe dirá - respondeu o segundo condenado.
Entra um terceiro condenado.
          - Quem é você e o que procura? - disse o monge.
          - Aquele que vem depois de mim lhe dirá - respondeu o terceiro condenado.
E o quarto condenado não veio.



História 07

O Espetáculo Ideal
Qual é o verdadeiro espetáculo que devemos apreciar sempre?
Que tal pensar mais no que ganhamos do que no que perdemos?
Vamos treinar nossa capacidade de ver o que há de bom em cada momento?

O mesmo Ramakrishna, que repetiu, adaptando-as à sua maneira, um número muito grande de narrativas pertencentes à tradição hinduísta, falou sobre um homem que ia assistir a um espetáculo teatral. Como a peça era encenada em pleno ar livre, ele levou um cobertor, no qual se enrolou.
Quando chegou, a peça não tinha começado. O homem se estirou, adormeceu e não acordou senão no final do espetáculo.
Então, dobrou o cobertor e voltou pra casa, murmurando:
          - Maravilhoso, maravilhoso...



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